Relato de Parto Normal Humanizado de bebê com Malformação

Achei importante fazer um pequeno relato do meu 1° parto para que entendam o quão importante foi o 2°

 Raiani e Clara

Tenho uma filha de 2 anos e 5 meses, meu primeiro parto foi normal hospitalar. Minha bolsa rompeu de madrugada, e com o diagnóstico de bolsa rota tive o TP induzido após 9h de rompimento. Eu sabia que a ocitocina sintética aumentaria o ritmo e a freqüência das contrações, e era tudo que eu não queria, mas não tive escolha. Na época, infelizmente, não conhecia o trabalho da Mel (Doula) e da Eluzia (Enf. Obstetra). Mas o desejo de parir era tanto que eu queria sentir todas as dores, porque tinha convicção que elas eram minhas e de mais ninguém. Após ser levada para a sala de partos (horrorosa por sinal, RS.) recusei as instruções da enfermeira para ficar deitada naquela maca terrível, e durante as contrações a melhor posição era de quatro, RS. Recusei a epidural porque eu não queria perder a sensibilidade, queria estar no controle para sentir os puxos que indicariam a hora de fazer força. Meu GO, Dr. Manoel, sempre muito compreensivo, mesmo com as fragilidades do sistema, respeitou meus pedidos e deixou-me parir semi-deitada e não realizou a tão temida episiotomia. Meu amado esposo ficou o tempo todo ao meu lado me dando força. Graças a Deus consegui parir minha linda Clara e tive o períneo íntegro.

Pois bem, em Junho de 2014 engravidei novamente e de uma coisa tinha certeza, queria contratar uma doula e enf. Obstetra para me ajudarem a ter um parto mais humanizado e sem o uso de ocitocina, se fosse possível, é claro. Mas com 13 semanas fizemos a ultrassonografia de translucência nucal e recebemos uma notícia que a princípio foi um choque, nosso bebê tinha malformação. Mas até então esperávamos que fosse um falso-positivo, só que infelizmente com o passar do tempo o diagnóstico só foi sendo confirmado. Mas ainda assim esperávamos que uma cirurgia resolvesse, e aí fiquei morrendo de medo de ter que passar por uma cesárea. 

Mais uma vez uma notícia terrível, nosso bebê era incompatível com a vida. E aí? O que fazer? Quantas incertezas... quantas noites de choro... Tantos sonhos... Uma coisa era certa, deixaríamos nossa Maria Vitória nascer da melhor forma possível, e viver o tempo que Deus quisesse. Mas não podíamos nos programar para ter um parto humanizado porque ainda não tínhamos certeza se nosso bebê poderia nascer através de parto normal, em função da malformação. 

Mas Deus é maravilhoso, encheu nosso caminho de pessoas que nos ajudaram muito. Fazendo pesquisas em alguns sites encontrei no site do Grupo Vínculo uma relação de falsas indicações de cesáreas desnecessárias, e entre elas constava “qualquer malformação fetal incompatível com a vida”. Agradeço então à atenciosa doula Renata Olah que esclareceu algumas dúvidas através do facebook. E não poderia deixar de agradecer ao meu querido GO, Dr. Manoel Vergilio P. Martins, que desde o início nos tranquilizou e nos deu total apoio para que a vida da nossa filha fosse preservada até o fim. 

Na reta final da gestação, quando soubemos que a Maria Vitória poderia nascer de parto normal, ele nos deu carta branca para realizarmos um parto humanizado com as presenças indispensáveis da Enf. Obst. Eluzia e da doula Mel. Então com 38 semanas de gestação entrei em contato com Eluzia, detalhei nossa situação e ela gentilmente aceitou nos acompanhar e nos indicou a Mel. Tudo certo para seguirmos viagem até Castelo (ES) assim que o TP evoluísse para a fase ativa. Os pródromos já me acompanhavam há umas duas semanas. Notei o aumento da secreção vaginal e a presença de muitas contrações de treinamento. 

Na sexta-feira (20/03/15) liguei o “modo faxina” e organizei a casa. Durante todo o dia senti muitas contrações, porém muito espaçadas e bem curtinhas, então não dei tanta importância. No início da noite saiu o tampão mucoso e as contrações voltaram, ainda muito espaçadas. Eu realmente já estava na fase latente, mas preferi agir com a maior tranqüilidade possível, estava suportável e aproveitei para relaxar. Após às 00:00h deu uma engrenada, acho que entrei na fase ativa do TP, pois cheguei a sentir umas 8 contrações de 5 em 5 minutos, com duração de 20 a 30 segundos. Depois voltou a espaçar um pouco,          e como elas estavam suportáveis e com uma duração menor do que o esperado, mais uma vez fiquei o mais tranqüila possível e consegui até cochilar. No sábado (21/03/15) pela manhã entrei em contato com Eluzia (Enf. Obst.) e relatei minha noite. Ela me orientou a me movimentar e a fazer um escaldapés e após tentar relaxar. Foi o que me ajudou bastante, e meu dia seguiu na maior tranqüilidade. Meu maridão foi primordial, ajudou-me a cuidar da nossa Clarinha, comprou comida e água de coco. Dei almoço para minha pequena e depois segui as orientações das meninas. Tomei um banho morno demorado e consegui relaxar muito no chuveiro. 

Por volta das 14h30min as contrações voltaram com intervalos de 5 em 5 minutos e duração de 30 segundos. Desde o início as controlei com a respiração e a melhor posição era sentada. Confesso que eu esperava contrações mais longas e elas continuavam mais curtas, RS. Eluzia veio então me avaliar e... SURPRESA! Eu estava com 8cm de dilatação, RS. Foi uma notícia incrível porque eu realmente não imaginava que a Maria Vitória estivesse quase nascendo. 

Não conseguimos falar com meu GO (Dr. Manoel), e ficamos com medo de seguir viagem para Castelo sem sua opinião, pois poderíamos cair nas mãos de um plantonista que poderia impedir nossas acomodações no quarto (banheira e etc.), e ainda havia a questão da malformação. Mas, por providência divina, Eluzia tinha o contato do GO plantonista de um hospital “X” aqui em Cachoeiro (próximo a minha residência). Ela explicou para ele minha situação e ele nos deu a garantia de um parto humanizado com a presença dela como acompanhante. 

Não tivemos dúvida que era a melhor escolha e seguimos para o hospital. Após as burocracias para internação fomos para a sala de pré-parto. Passei a fase ativa em minha casa e acredito que a fase de transição e o expulsivo durou cerca de meia hora. Agradeço imensamente a Eluzia (Enf. Obst.) e ao Dr. “Y”que quebrou as regras do hospital e deixou-me ser a protagonista do meu parto. Em nenhum momento eles interferiram, e a natureza humana falou mais alto. Enquanto eu procurava a melhor posição (que nessa fase já não existia), Eluzia fazia massagens. Entre uma contração e outra meu GO Dr. Manoel ligou e queria falar comigo, veio uma contração, falei para ele esperar, mudei de posição repentinamente e de cócoras senti uma vontade incontrolável de fazer força e a Maria Vitória veio ao mundo. Mais uma vez tive o períneo íntegro

Foi maravilhoso ajudá-la a sair da casinha que foi seu abrigo por 39 semanas. Não pude pegá-la no colo, não pude amamentá-la... Porque devido às malformações ela precisava seguir direto para o oxigênio. Tomei um banho e em seguida fui contemplá-la. Sobreviveu por três horas, mas foi o suficiente para amá-la incondicionalmente. Fiquei realizada em dar a ela o direito de nascer.

E para quem deseja ter um parto humanizado peço que primeiramente acreditem no poder seu próprio corpo. Acreditem no processo fisiológico do ser humano, afinal, nós somos capazes de parir. Sejam Mulheres Empoderadas! Leiam e se informem muito e não hesitem em investir contratando quem for necessário para lhes ajudar, pois faz a diferença.

Agradeço primeiramente a Deus, ao meu esposo, filha e familiares que estiveram sempre ao nosso lado. Obrigada Mel, porque mesmo não dando tempo de seguirmos para Castelo você esteve o tempo todo disponível. Obrigada Eluzia por ter sido tão importante nos momentos que experimentamos a dor e a felicidade plena. E obrigada a todos que rezaram e sofreram conosco nessa longa caminhada. Segue uma mensagem que recebi de um missionário da Canção Nova, que resume tudo o que sentimos e vivemos:

“Vai em paz Maria Vitória, sabendo no céu que sua mãe te amou até o fim, te esperou e não desistiu da sua vida! Agora interceda por nós Maria Vitória, você que já desfruta da plena alegria que nós almejamos e lutamos para conquistar! Nos vemos no céu Maria Vitória! Obrigado senhor pelas 3 horas da Maria Vitória na Terra e pela eternidade dela no céu! Agora queria parabenizar você Raiani, pela nobre decisão! Nada ultrapassa a paz que você tem hoje por ter tomado a decisão certa! Quantas mães que poderiam desfrutar da mesma paz mas optaram em abortar seus filhos e hoje não dormem mais em paz, rezemos por essas mães! Abraço, Deus te abençoe!”


Raiani Modolo
Cachoeiro de Itapemirim - ES









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